domingo, 27 de setembro de 2009

PORÃO

Modesta, isto o que era.
Prudente, talvez:
ponderada.
Não havia dia em que não se ardia,
sua ardência escura,
sua ardência úmida, húmus.
Narcisa escondida pelos cantos,
fugia dos olhos lavados do mundo, esses
olhos carentes de penumbras.
E ardia-se de prazer
- o prazer mudo dos que guardam segredo -,
dentro de si sua pérola negra,
diamante no coração de sua gruta.
Moderada, media em doses certas o peso
de sua beldade,
sabia com precisão o alcance dos
abalos sísmicos que decorreriam do
florescer de tamanha
e impossível beleza.

(da série "Cômodos", inspirada na poesia puerperal de Eduardo Martins: puerperal.blogspot.com)

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