segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sobre a carta que não vai chegar


Abriu a janela no exato momento em que a garrafa com a mensagem passava, levada pelo vento. Pegou-a pelo gargalo e, sem tirar a rolha, examinou-a cuidadosamente. Não tinha endereço, não tinha remetente. Certamente, pensou, não era para ela. Então, com toda delicadeza, devolveu-a ao vento.

Marina Colasanti, “A quem interessar possa”, em Contos de Amor Rasgados



Mas o que esperava? Que, de súbito, uma emblemática carta a surpreendesse, concedendo-lhe o prazer de toda novidade, em meio aos seus distraídos e sonâmbulos afazeres? E que esta carta plenamente lhe contemplasse, como faz um copo d’água que sacia lendária sede? E que cada palavra escrita trouxesse consigo a medida certa para o suprimento de seu exigente e almejado deleite?

Talvez sim. Ou, talvez, nem tanto. Queria apenas saber – sentir – que a passagem de sua existência pela existência daquele outro, o suposto remetente, havia feito cócegas de se lembrar; e saber – sentir – o modo como isto, se é que, se dava. E então poderia ela, para sempre, encostar a cabeça um pouco mais leve ao travesseiro. E nem precisaria muito para que se pudesse cobrir, com terra macia, um pouco mais daquela fenda que havia surgido e que até então permanecia, involuntária, escondida em algum dos recônditos de seu interior.

(É que não tinha base. Nunca teve, tudo aquilo nunca teve chão de se pisar. Era como entornar o líquido de um jarro e esperar por um recipiente que o pudesse conter – as duas mãos em forma de cuia, um copo, uma bacia que fosse, qualquer coisa! Mas que o líquido não se esvaísse. Não tinha base, pensava, deixar que se escorresse, por entre os dedos abertos, aquele tanto de si. E não havia chão, macio ou duro, simplesmente.)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A casa azul



Azul
o gosto do juvenil paladar
Azul
a casa que mora neles


O que são portas,
maçanetas, trincos -
o que são tetos, telhas
a massa corrida
as vigas em vão?


Paredes concretas não moldam os fluidos
os eternos fluxos
os etéreos trecos
os líricos versos nos cantos da sala


No meio do mundo tinha uma casa
Tinha uma casa no meio do mundo

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Fogo no Balão


Clip da música Fogo no Balão - Davi Fuzari e Luana Aires

Desenhos (aquarela, nanquim, marmorizações, lápis) > Luana Aires
Edição, Finalização e Intervenções Gráficas > Davi Fuzari
Câmeras > Davi Fuzari e Luana Aires
Música do disco "Flores Maçãs" de Paulo César Anjinho


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Andar'ilha

mundo meu ardendo em febre, eu vim
lavar rosto e molhar pé nessa baía d'eu, meu sinhô
eu vim sentar um pouco à beira-mim