segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Rosa Negra


"É encerrado em sua solidão que o ser de paixão prepara suas explosões ou seus feitos"

(Gaston Bachelard, A Poética do Espaço)





para Otavio


Olhem bem aquele jovem: cultiva a sua solidão tal qual uma ostra a pérola. É de matéria de solidão que se constroem os muros de sua fortaleza. Solidão que não pesa feito o breu – age, antes, como éter: entorpece e move os primeiros passos para que se adentre nos moinhos do mundo. Solidão que não se traduz em falta – é antes o estar-em-si que tantos de nós temos desaprendido.

Rosa negra – sua solidão é sua rosa negra, cálida e cândida. Semente plantada em seu jardim de quimeras. Cultivada em terra-húmus, no canto de seu canto (o dele).

Como todo bom jardineiro, cuida dessa rosa, todos os dias, com afinco. Quando consegue por fim senti-la arder, é hora de soprar as suas pétalas ao mundo, e é então que essa solidão se dissipa por entre rostos e dentes, baila sua festa por entre as frestas. E é então que essa solidão vive a sua glória.