segunda-feira, 20 de abril de 2009


Encontrei-a no chão

Lágrima de um choro quase contido

(gota mista de amargura e encanto)

De alguma árvore cujo segredo parece ter sido desvelado.


Apanhei então tal fragilidade entre os dedos:

Aquela folha era um desenho materializado do singelo

Tinha o cheiro e o gosto do lírico

Podia ser a metáfora da minha vida.


De si só sobrou seu esqueleto

Em meio a sua trama há um vazio por onde posso respirar.

Sua sombra é sua aura

Sua alma

Seu espectro


Sua organicidade carcomida

– suas ranhuras –

Formavam o mapa do universo

E por estes labirintos

Meu olhar se perdia

E se deliciava

terça-feira, 14 de abril de 2009

sopro

O frio me faz lembrar o corpo. Os pés queimando de gelo sobre o verde-escuro da ardósia. E o vento já não mais se cala, por onde passa me convida para um não-lugar... Vejo-me então persuadida pelo latente vendaval contido num sopro. É sim, o vento me cochicha nos ouvidos que eu vá um pouco morar fora de mim, quem disse que eu ouço? Finjo que não. Finjo-me pedra.

(Mas sei que não sou pedra: sou antes um rio turvo e belo e ávido de maiores sinuosidades)