
Encontrei-a no chão
Lágrima de um choro quase contido
(gota mista de amargura e encanto)
De alguma árvore cujo segredo parece ter sido desvelado.
Apanhei então tal fragilidade entre os dedos:
Aquela folha era um desenho materializado do singelo
Tinha o cheiro e o gosto do lírico
Podia ser a metáfora da minha vida.
De si só sobrou seu esqueleto
Em meio a sua trama há um vazio por onde posso respirar.
Sua sombra é sua aura
Sua alma
Seu espectro
Sua organicidade carcomida
– suas ranhuras –
Formavam o mapa do universo
E por estes labirintos
Meu olhar se perdia
E se deliciava
4 comentários:
o outono faz isso com as folhas
Essa poética atual, a de elevar o resto, o lixo, o desperdício à arte soa um pouco a “épater”. Mas a comparação da folha seca com o mapa do universo é extraordinária, o texto tem em si um tom muito lírico e a fotografia tem muita beleza. As palavras parecem tratar-se da descrição um instante, ou os precedentes a um instante: - o da fotografia -, ou o contrário, o instante-fotografia como origem ao poema. Seja como for, há uma correspondência incrível entre o texto e o retrato, de modo que não se é possível conceber um separado do outro sem prejuízo para ambos. Além do mais, a impressão é de que a foto da folha seca ultrapassa as cadeias da realidade imediata.
o achado dessa folha tomou o meu dia por inteiro.
queria experimentar reproduzir de alguma maneira aquela bela complexidade...queria sê-la.
só mesmo sendo As Coisas pra escrever sobre Elas.
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