segunda-feira, 20 de abril de 2009


Encontrei-a no chão

Lágrima de um choro quase contido

(gota mista de amargura e encanto)

De alguma árvore cujo segredo parece ter sido desvelado.


Apanhei então tal fragilidade entre os dedos:

Aquela folha era um desenho materializado do singelo

Tinha o cheiro e o gosto do lírico

Podia ser a metáfora da minha vida.


De si só sobrou seu esqueleto

Em meio a sua trama há um vazio por onde posso respirar.

Sua sombra é sua aura

Sua alma

Seu espectro


Sua organicidade carcomida

– suas ranhuras –

Formavam o mapa do universo

E por estes labirintos

Meu olhar se perdia

E se deliciava

4 comentários:

ana f. disse...

o outono faz isso com as folhas

Clube Jatobá disse...

Essa poética atual, a de elevar o resto, o lixo, o desperdício à arte soa um pouco a “épater”. Mas a comparação da folha seca com o mapa do universo é extraordinária, o texto tem em si um tom muito lírico e a fotografia tem muita beleza. As palavras parecem tratar-se da descrição um instante, ou os precedentes a um instante: - o da fotografia -, ou o contrário, o instante-fotografia como origem ao poema. Seja como for, há uma correspondência incrível entre o texto e o retrato, de modo que não se é possível conceber um separado do outro sem prejuízo para ambos. Além do mais, a impressão é de que a foto da folha seca ultrapassa as cadeias da realidade imediata.

Luana Aires, disse...

o achado dessa folha tomou o meu dia por inteiro.

queria experimentar reproduzir de alguma maneira aquela bela complexidade...queria sê-la.

matheus matheus disse...

só mesmo sendo As Coisas pra escrever sobre Elas.