domingo, 4 de outubro de 2009

COZINHA

Vapor de fumaça,
frutas frescas repousam na cesta,
terça-feira morna e a lembrança do cheiro
quente da cozinha da avó.
Ah a avó,
seu livro de receitas na estante e os
poemas escondidos entre as páginas amareladas,
Inês sorri entre os dentes: naqueles tempos,
ler e escrever poema já não eram lá bons modos.
Cecília espremida entre duas receitas de bolo,
Meireles e merengues.
Tenta Inês balbuciar um ou outro dos Cânticos,
“O vento do meu espírito
soprou sobre a vida
e tudo que era efêmero se desfez.
E ficaste só tu, que és eterna”...
A água ferve, as horas chegam,
o tempo voa.


(da série "Cômodos", inspirada na poesia puerperal de Eduardo Martins: puerperal.blogspot.com)

Um comentário:

ana f. disse...

ah, a avó!!! coisa mais bonita.... branca... calma... primeva... primavera...