domingo, 3 de agosto de 2008

Ela havia se cansado. De tudo e de todos. E das lonjuras que inventara para si.

Cansada de si? Cansada do não. Nessa instância a sua vida se tecia de arrependeres, como uma louca ela colecionava desejos passíveis, possíveis, profanos, amores sem chances, luares sem pares, a vida passava entre os dedos abertos.

Com a embriaguez do sono a pesar suas pálpebras, colocou a última carta em seu castelo, foi se deitar. Na cabeça a trilha sonora do filme de domingo, cabelos molhados e a chuva caindo lá fora... por sobre seu teto as estrelas. O gosto úmido daquela noite a incomodava – e profundamente. O cheiro triste da dama-da-noite que a tudo se impregnava não respeitava fechaduras nem cadeados, mas que diabo! Ainda havia de cortar um dia aquele pé de dama-da-noite, sim, havia... Isso ela prometera a si mesma – mais uma para sua coleção de promessas, essa não passaria batido.

O cheiro doce da madrugada se confundindo com o cheiro de seus devaneios, ocultos desejos, nostalgias de sonhos de infância, tudo era macio demais... Inclusive a escuridão do quarto: macia. Como um abismo.

2 comentários:

marcos assis disse...

o cheiro doce da dama-da-noite...

Amora disse...

Vida de personagens avulsos, soltas pelo ar da praça. Assim, tão naturalmente, como quem já sabe de cor a vida de cada um deles, pra poder contar, cantar, soar a voz aos outros, que ousarem ouvir. Marcou. Essa menina cansada se encontrando num abismo aveludado pelo cheiro atrevido de dama-da-noite. Era eu e não era. Marcou.